No entanto, a frequência da flutuação e a recuperação de uma boa acuidade visual após o pestanejar ou a instilação de agentes humectantes da superfície ocular ajudarão a identificar as condições responsáveis pela sintomatologia.
Caso clínico:
Um paciente do sexo masculino, de 55 anos de idade, apresenta queixas de visão turva e flutuante com meses de duração, mais acentuada em tarefas como ler, ver televisão, conduzir, etc. Recentemente, passou a usar óculos e lentes de contacto para uso desportivo ocasional. O seu último exame médico foi realizado dois meses antes da nossa visita, excluindo diabetes ou outras doenças sistémicas. Não está a tomar qualquer medicação.
Exame Visual:
Pupilas iguais e normorreativas.
Motilidade ocular normal.
Bom estado binocular.
Erro de refração
Adição: +2.00 Sf. 0,8 M a 35 cm. (coincidente com os seus óculos)
PIO: OD: 12 mm Hg/OI: 13 mm Hg (11:00 a.m.)
Biomicroscopia:
+ Coloração conjuntival grau I-II, nas zonas expostas à evaporação (imagem 3).
Córneas transparentes.
MAS 3-4” OD/OI (imagem 2).
Menisco lacrimal ¼ mm.
DGM não telangiectásico.
Lente cristalina clara.
OCT segmento anterior: mapa de espessura epitelial irregular com afinamento superior em ambos os olhos (imagem 1).
Pólo posterior: retina e nervos ópticos sem achados relevantes.
Impressões:
Trata-se de um caso de olho seco, cuja queixa principal é visual. O exame do segmento anterior mostra sinais de olho seco, tais como rutura precoce da película lacrimal, coloração conjuntival e alteração da função das glândulas meibomianas. Um exame de tomografia computorizada do segmento anterior (OCT) mostra um mapa de espessura epitelial irregular caraterístico da condição de olho seco.Discussão:
A doença do olho seco, para além de ter uma etiologia multifatorial, apresenta sintomatologia diversa. As queixas de visão turva e flutuante foram a queixa principal do caso apresentado. Os sinais clínicos de diminuição da MAS, coloração do epitélio conjuntival e disfunção das glândulas meibomianas confirmam o diagnóstico de olho seco. A análise topográfica da córnea com tomografia de coerência ótica fornece dados objectivos e complementares às outras análises clínicas do olho seco.
O adelgaçamento epitelial da córnea (CET) é mais acentuado nas zonas superiores, tal como foi descrito por Mohamed Abou Shousha et al (1).
Loreta B. Szczotza-Flynn, OD, PhD et al, (2) publicaram o impacto da condição de olho seco na acuidade visual, bem como na sensibilidade ao contraste. A irregularidade da córnea central afecta a acuidade visual ao aumentar as aberrações de ordem superior e a dispersão da luz.
Xinhan Cui et al, (3) avaliaram a espessura epitelial no olho seco e concluíram que a CEA mais elevada é significativa no olho seco e mais acentuada nos graus mais elevados de olho seco. Também referem uma falta de concordância das alterações epiteliais da córnea com outros valores, como a redução da MAS ou o grau de DGM.
As flutuações da visão são uma queixa que, embora comum, muitas vezes não é diagnosticada ou a sua etiologia é confundida. É interessante notar que a doença do olho seco não só é muito prevalente, como também prejudica a qualidade de vida e a sua apresentação clínica representa um grande desafio para o profissional de saúde ocular (optometrista ou oftalmologista).
A contribuição das novas tecnologias, como a OCT, ajuda a estabelecer com maior precisão os tratamentos mais adequados e a melhorar o acompanhamento clínico do caso.
Figura 1. Mapa paquimétrico da córnea obtido com OCT.
Figura 2. Invasão reduzida MAS 3-4”.
Figura 3. Alteração do epitélio conjuntival com coloração +.
Referências
Abou Shousha M, Wang J, Kontadakis G, et al. Corneal epithelial thickness profile in dry-eye disease. Eye (Lond). 2020;34(5):915-922. doi:10.1038/s41433-019-0592-y
Szczotka-Flynn LB, Maguire MG, Ying GS, et al. Impact of Dry Eye on Visual Acuity and Contrast Sensitivity: Dry Eye Assessment and Management Study. Optom Vis Sci. 2019;96(6):387-396. doi:10.1097/OPX.0000000000001387
Cui X, Hong J, Wang F, et al. Assessment of corneal epithelial thickness in dry eye patients. Optom Vis Sci. 2014;91(12):1446-1454. doi:10.1097/OPX.0000000000000417
Obteve o seu doutoramento no The New England College of Optometry, Boston, em 1987.
Obteve a qualificação de destaque Magna Cum Laude pela sua tese de doutoramento defendida na Universidade Camilo José Cela, em Madrid. 2014. Acreditado com licença profissional em Massachusetts, EUA. Membro da Academia Americana de Optometria desde 1990.
Foi professor clínico adjunto na:
Faculdade de Optometria de Nova Inglaterra.
Faculdade de Optometria da Universidade de Houston.
Western University of Health Sciences. Pomona, Califórnia.
Universidade do Verbo Encarnado, Escola de Optometria Rosenberg. San Antonio, Texas.
Fundador e diretor do Centro Boston de Optometría, Madrid.
Dirigiu os programas de Mestrado em Optometria desde a sua criação em 1990. Autor de numerosas publicações científicas e conferencista internacional.
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